terça-feira, 10 de junho de 2008

O Jornal Macau Daily Times

“Um jornal não tem que se adaptar ao jornalista,
o jornalista é que deve adaptar-se ao jornal”.
José Rocha Dinis

A história do jornal Macau Daily Times (MDT) nasceu das ambições de dois profissionais da área da comunicação social da RAEM: o angolano Rodolfo Ascenso e o macaense João Magalhães, editor e designer gráfico, respectivamente, no jornal Ponto Final. Após alguns anos a desempenhar as suas funções e um tanto ou quanto insatisfeitos com o funcionamento daquele periódico de língua portuguesa, os dois amigos resolveram no ano de 2006 que estava na hora de mudar de ares e procurar novas alternativas para o jornalismo feito no território.
Rodolfo Ascenso, com um currículo jornalístico construído entre Portugal e Macau, foi o mentor e o principal articulador das parcerias necessárias para o financiamento do projecto. Nesta fase de negociações entra em cena o sul-africano Kowie Geldenhuys, que, graças às suas relações em Macau, foi a peça chave entre o projecto e os empresários da RAEM. Kowie tornou-se o general manager, enquanto que Rodolfo ficou com o cargo de director do jornal, e João Magalhães assumiu a direcção gráfica, responsabilizando-se por todo o design do MDT, desde a criação do logotipo à concepção gráfica do jornal.
Além do conteúdo proveniente da Agência France Press (AFP) para os temas internacionais, a recolha de informações locais é realizada por uma equipa de quatro jornalistas profissionais e uma estagiária. Os jornalistas do MDT foram escolhidos “a dedo” pelo seu director, que contactou pessoalmente universidades australianas para recrutar alunos finalistas em jornalismo, interessados na experiência multicultural que é trabalhar em Macau. A excepção é a jornalista luso-inglesa Sara Farr, que já trabalhava noutro jornal de língua inglesa de Macau[1], mas que preferiu trocar de emprego por acreditar na proposta do novo jornal. O resultado das escolhas do director Rodolfo Ascenso reflecte-se no espírito que o angolano idealizou para o novo projecto: uma redacção jovem, multicultural, crítica e opinativa, que tem liberdade para errar e corrigir os seus trabalhos, sem perder de vista a linha editorial do jornal.
Nasce assim o segundo jornal de língua inglesa de Macau no mês de Junho de 2007, o Macau Daily Times que, como salienta João Magalhães, “em apenas seis meses, conseguiu tornar-se o principal jornal daquela língua no território, definir o seu espaço dentro do mercado publicitário e obter o apreço da comunidade anglófona de Macau”[2].

As rotinas

Fruto de um acordo celebrado com o director Rodolfo Ascenso, o meu estágio como repórter fotográfico no MDT inicia-se no mês de Novembro de 2007. Para sanar as eventuais dificuldades financeiras da minha estada em Macau, que naquela altura já não estava a ser financiada por nenhum protocolo, a direcção do jornal ofereceu-me a oportunidade de realizar trabalhos part time na área da paginação.
O estágio foi duplamente benéfico, pois, além de absorver mais conhecimentos através das orientações fotojornalísticas dadas pelo director do jornal, aprendi na prática como pensar “graficamente” uma fotografia e solidifiquei a minha opinião sobre a importância da imagem numa publicação impressa.
As reportagens fotográficas eram requisitadas a qualquer hora do dia por telefone ou pessoalmente, na redacção. Os trabalhos eram entregues pela editora Kimberly Johanes depois de ter definido os temas da agenda com o director na noite anterior. Na maioria dos trabalhos eu acompanhava os jornalistas desde a sede da redacção, mas, em muitos casos, deslocava-me de onde estava para sítios onde o trabalho ia ser realizado.

Ao chegar à redacção, descarregava as imagens no computador de fotografia para serem seleccionadas, editadas e identificadas adequadamente sob a orientação de Rodolfo Ascenso, que além de ser o director despenhava também a função de editor fotográfico do jornal. As imagens seleccionadas eram então gravadas no servidor de imagens do jornal e ficavam à disposição da editora e do director.

Depois de submetidas à escolha editorial, as imagens eram então gravadas, com os textos correspondentes já editados, em pastas que correspondiam a cada uma das secções do jornal, armazenadas no computador do paginador, através de uma rede interna. O paginador, depois de se ter reunido com o director de Marketing (responsável pela quantidade e a localização das publicidade em cada edição), acedia às pastas no seu computador e disponibilizava o material na maqueta do jornal. Terminado o processo de paginação, o jornal era revisto, corrigido e depois gravado num CD, que era entregue aos funcionários da gráfica que se deslocavam à sede do MDT depois de chamados por telefone para o efeito. Aos fins-de-semana eu realizava a função de paginador e as fotografias passavam a ser tiradas pelos próprios jornalistas durante os seus trabalhos.

A minha inserção no grupo foi rápida, pois todos os jornalistas que ali trabalhavam já eram velhos conhecidos de conferências de imprensa e de vida nocturna. Coisas de Macau. Porém, tinha chegado num período de significativas mudanças no funcionamento do jornal: Kimberly Johanes assumira a editoria do diário há poucos dias e os restantes jornalistas estavam ainda um pouco atrapalhados com as mudanças de horários e de responsabilidades. No que toca à tarefa de repórter fotográfico, o trabalho fluía naturalmente. Mas quando comecei a realizar os trabalhos de paginação aos fins-de-semana, houve quem perdesse a cabeça comigo. E com razão: o director gráfico conseguia terminar a paginação antes da uma da madrugada. Eu, no meu primeiro dia, terminei às cinco horas.
O director do jornal conseguiu acalmar a situação também com o uso da razão, afinal, eu estava apenas a começar e, para um novato paginar um jornal inteiro sem erros, era necessário tempo e compreensão de todos. Assim mesmo o director não deixou de me chamar a atenção: disse para eu deixar de “namorar” as fotografias e ter mais cuidado com o tempo que despendia. E era verdade: gostava de ver as fotografias da AFP e ler os textos que as acompanhavam.

O enquadramento

O processo de paginação é uma dinâmica: os textos e as imagens tornam-se “manchas gráficas” que se acertam na maqueta do jornal através das mãos do paginador como num puzzle com regras A disponibilização das notícias tem de proporcionar um prazer semelhante ao da leitura de um conto, mas a satisfação do leitor tem de ser mais rápida. O design da imprensa tem de ir ao encontro dessas variáveis. Tem de ser acessível e convidativo.[3]
Não havia tempo para “namoros jornalísticos” mais profundos, mas isso não me impediu de ter cuidado no enquadramento das fotografias e fazer algumas observações quanto às imagens captadas pelos colegas jornalistas. Impossível resistir à observação, afinal, as mãos que paginavam também pertenciam a um futuro Fotojornalista. O mais enriquecedor nesta experiência como paginador foi exactamente no que toca ao reenquadramento das imagens[4].
Como certas páginas “pediam” fotografias verticais e outras horizontais, tanto para facilitar a leitura como para disponibilizar o conteúdo de uma forma mais harmoniosa para o leitor, interiorizei a necessidade que um jornal tem de obter, através dos seus fotorepórteres, imagens nas duas posições sobre o mesmo tema.
No que toca à qualidade das fotografias dos colegas, preferi não me limitar apenas aos comentários e às sugestões. Como não eram da área do fotojornalismo, procurava resolver com eles os problemas de focagem e de enquadramento, testando e ajustando as suas máquinas e trocando ideias sobre ângulos e iluminação com os jornalistas. O que além de produtivo foi um prazer, pois além de melhorar as imagens para o jornal, sempre aprendia algo mais enquanto explicava.

[1] O jornal Macau Post
[2] Este material foi colectado através de entrevista e conversas realizadas com João Magalhães e Rodolfo Ascenso no âmbito da recolha de informações sobre o MDT para este relatório de estágios
[3] SOUSA, Pedro Jorge (2001) – Elementos do Jornalismo Impresso
[4] Anexo 12

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