terça-feira, 10 de junho de 2008

A ética no (Foto)jornalismo

Fotografar usando os recursos actuais digitais tornou a fotografia fácil e ao alcance de todos. “Em 1991 a Kodak lançava a primeira câmera SLR digital com resolução de 1.3 mega pixel [...] o seu custa era de aproximadamente 30 mil USD. Só dois anos mais tarde a Apple lança um modelo mais acessível ao público, o Quicktake 100 (700 USD).
Era o começo da popularização da fotografia digital[1]. No Fotojornalismo, a fotografia Digital trouxe rapidez, eficácia e muitas questões éticas. O tradicional laboratório, com seus químicos e demorados processos na “sala escura”, foi substituído nas grandes redacções por velozes computadores e “laboratórios portáteis” como por exemplo o programa Photoshop, da empresa Adobe[2]. Com o pós-tratamento da imagem através deste software e de outros da mesma linha, é possível fazer o que se fazia nos tradicionais laboratórios de fotografia[3]. Os problemas surgem quando estes mesmos programas são utilizados para manipular uma imagem a ponto de retirar ou acrescentar elementos, alterando a informação da mesma.
Questões éticas no fotojornalismo são quase diárias, mas não se finalizam apenas uso imoral uso das novas tecnologias. Um caso observado na licenciatura de jornalismo mostrou-me que a informação de uma imagem, seja ela digital ou analógica, pode ser manipulada antes da imagem chegar a redacção.
Foi através de um trabalho que realizei para uma cadeira que não era de Fotojornalismo, mas sim Ética y Deontologia, frequentada num período de estudos Erasmus na Universidade Pontifica de Salamanca. O caso dizia respeito à polémica imagem do fotojornalista espanhol Javier Bauluz do jornal catalão “La Vanguardia” que mostrava a imagem do corpo de um imigrante numa praia da Costa do Sol espanhola ao lado de um casal de turistas que pareciam (na imagem) estar indiferentes à imigração subsaariana naquele país. Numa segunda imagem é possível constatar que não havia indiferença naquela praia, pois a segunda imagem é registada numa posição que propicia uma ideia de isolamento dos actores. Além disso, a lente teleobjectiva utilizada no registo da imagem permite aproximar os sujeitos, que a “olho nú” estariam mais afastados[4].
Este é um exemplo que demonstra que a informação fotográfica não está a salvo de manipulação, tenha esta passado por processos de pós-tratamento digital ou não. Porém, falar de ética e moral no (foto)jornalismo, quando o campo de aprendizagem dos futuros profissionais da comunicação social ultrapassa fronteiras, torna-se uma tarefa complicada.
No Brasil descobri que a profissão de assessor de imprensa pode ser dividida com a profissão de jornalista e que as imagens às vezes são “ligeiramente” manipuladas para “esconder” certa informação indesejável em certas revistas. E que em Macau é (culturalmente) comum a oferta de “presentes” aos jornalistas em certas datas do calendário chinês por parte das instituições do Governo e que é “normal” ver fotografias e artigos não assinados na maioria dos jornais da RAEM. Como analisar estas situação do ponto de vista do (Foto)jornalismo realizado em Portugal e do Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses[5]? Fácil. Mas será que podemos criticar os outros ao ponto de não nos tornamos demasiados “centristas” numa discussão sobre um o que é melhor para o jornalismo mundial?
A conclusão que tiro dos meus estágios “além-mar” é que cada país tem a sua deontologia e a sua necessidade/forma de exercer o (Foto)jornalismo. O que não justifica que um (Foto)jornalista não tenha interiorizado as definições éticas existentes[6] da profissional que escolheu.
Levantar questões sobre a profissão, até mesmo na recta final de uma licenciatura, não seria fácil sem um curso que formasse o aluno antes do profissional. Penso que está aí a importância do curso de jornalismo de Coimbra: não formar apenas “estrelas da televisão” ou “pseudo-políticos de canetas no punho”, mas sim eternos e infatigáveis questionadores da profissão.
[1] MUNHOZ, Paulo (2007) - Estágios de Desenvolvimento do Fotojornalismo na Internet. [2] “Adobe Photoshop é um software caracterizado como editor de imagens desenvolvido pela Adobe Systems é considerado o líder no mercado dos editores de imagem profissionais, assim como o programa de facto para edição profissional de imagens digitais e trabalhos de pré-impressão” [3] SOUSA, Jorge Pedro, (2004) - A tolerância dos fotojornalistas portugueses à alteração digital de fotografias jornalísticas”. “Existem muitos fotojornalistas que não perspectivaram certas operações digitais como forma de tratamento digital de imagens, já que estes procedimentos seriam semelhantes às técnicas usadas nos laboratórios tradicionais”. [4] Anexo 01 e 02 [5]Anexo 03 [6] Anexo 04

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